segunda-feira, 31 de maio de 2010

PALÁCIO DO CATETE – MUSEU DA REPÚBLICA

Fátima Silva

Opulência é a palavra exata para definir os salões dos andares nobres do Palácio do Catete. Localizado no bairro de mesmo nome, na cidade do Rio de Janeiro, o prédio foi sede do poder republicano entre 1897 e 1960 e hoje abriga o Museu da República. Logo na entrada o portão, fundido na Alemanha, em 1864, é totalmente trabalhado em relevos delicados como em uma renda. A partir daí um suntuoso hall ladeado por seis colunas de mármore, conduzem à escadaria principal construída em módulos pré-fabricados de ferro fundido, e que só posso definir como uma orgia de estímulos visuais.


Salão Ministerial

Em claraboia, um magnífico vitral de origem alemã, composto por 288 peças, faz as honras do vão da escadaria que, por si só, já apresenta elementos de arte suficientes para surpreender a cada degrau que se sobe ou desce, com uma perspectiva única. Os querubins que se enroscam pelo corrimão da escada convidam a uma viagem singular pela lembrança de tempos memoráveis. Como vigias do Palácio os retratos dos presidentes que ali fizeram a história da república, ficam enfileirados nas duas paredes paralelas a escadaria no primeiro andar.

Pinturas, pisos, acabamentos, esculturas, lustres e vitrais se sucedem de forma tal, que não deixam tempo livre aos olhos, retratando fielmente a grandiosidade de dias de muita pompa e ostentação. A incrível variação de estilos na decoração de cada salão, dos dois primeiros andares, remonta a um tempo em que se valorizava a arte em toda a sua forma possível de expressão. Nenhum detalhe, desde as maçanetas e fechaduras das portas, até as molduras dos espelhos, ou a pintura dos tetos e paredes e a ornamentação dos móveis, é simples. O que poderia parecer caótico num primeiro momento, na verdade reflete a vontade de se criar ambientes majestosos, que se destacassem de acordo com a importância do prédio ou do proprietário.

O palacete foi construído por Antônio Clemente Pinto, português que veio para o Brasil aos 25 anos e que em pouco tempo, passou de protegido do Barão de Ubá a proprietário de quinze fazendas de café e dois mil escravos em Cantagalo, Nova Friburgo e São Fidélis, entre outros bens. Em 1854 Antônio tornou-se o barão de Nova Friburgo, título que recebeu do imperador por serviços prestados a região norte fluminense, entre eles, a construção da Estrada de Ferro Cantagalo, que unia suas fazendas, mas que agilizou o transporte do café da região para o Rio de Janeiro. Esse título faria com que o prédio ficasse conhecido como o Palácio de Nova Friburgo. Em 1858, o barão comprou a casa de número 159 e o terreno da Rua do Catete, assim como um terreno de fundos que chegava à praia do Flamengo. A construção do então Palácio de Nova Friburgo, um dos mais luxuosos da corte, iniciou-se em maio do mesmo ano, porém em 1860, o barão adquiriu as casas de número 161 e 163 visando, com isso, ampliar o jardim do Palácio. Somente em 1866 a família ocupou o palácio, com a obra ainda não concluída.


Vão: Escadaria

O Barão e a Baronesa faleceram respectivamente em 1869 e 1870, desfrutando muito pouco do palácio. Em 1890 o palácio foi vendido á Companhia Grande Hotel Internacional por herdeiros do barão. Com a falência desta, por ocasião do encilhamento, foi comprado por Francisco de Paula Mayrink, acionista da Companhia que lá morou por três meses. A partir de então ele só o usava nos fins de semana e chegou a construir um embarcadouro nos fundos do Palácio, nos limites com a praia do Flamengo. Passando por dificuldades financeiras vendeu o palácio ao governo em 1896, depois de um acordo com o Banco do Brasil na qual o imóvel estava hipotecado, por três mil contos de réis. Foi nesse mesmo ano que, no governo de Prudente de Moraes, foi decidida a transferência do Poder Executivo do Palácio do Itamaraty para o Palácio Novo Friburgo, que seria também a residência dos presidentes.

Mudanças internas e externas foram feitas para adaptar o edifício as suas novas funções. No segundo andar, no entanto, a reforma procurou preservar o aspecto original do palácio, acrescentando apenas, em alguns salões, as armas da República. Em 24 de fevereiro de 1897, aniversário da primeira constituição da República, o palácio passou a ser chamado de Palácio do Catete. Após a mudança da capital para Brasília, foi tomada a decisão de transformar o Palácio no Museu da República, incluindo-o na estrutura do Museu Nacional como Divisão de História da República, inaugurado em 15 de Novembro de 1960 com a presença do então presidente Juscelino Kubitschek.

O alemão Gustav Waehneldt assina o projeto de arquitetura italiana. A distribuição dos três pavimentos internos do Palácio reflete padrões renascentistas quando o pavimento térreo se destinava a acomodar os empregados e um salão de refeições voltado para o jardim. O segundo pavimento era destinado as grandes recepções e abrigava a capela para uso exclusivo da família, no último pavimento ficavam os dormitórios e outras áreas privadas. A cozinha, alojamentos para demais empregados e cavalariça ficavam em prédio anexo. No alto do prédio sete águias, ave que simbolizava o baronato de Nova Friburgo e que chegaram a torná-lo conhecido, também, como Palácio das Águias. A construção do palácio á beira da rua, coisa incomum as construções da época, se deve ao fato de que a baronesa queria sua vista para o movimento da rua e não para os jardins que ficaram ao fundo, chegando inclusive a dizer que “se fosse para ver só mato”, que não teria saído da fazenda de café.

A decoração tem móveis e lustres franceses que obedecem à temática de cada salão. Esses recebem nomes como salão Pompeano, Veneziano, Mourisco e são tão distintos entre si como os objetos que os compõe. Por todas as paredes, piso e tetos detalhes, entalhes, pinturas se alternam com esculturas várias, criando um efeito digno dos mais suntuosos filmes épicos. As pinturas rivalizam com os cristais dos lustres que pendem majestosos do teto e os espelhos duplicam as imagens dos móveis antigos e peças de decoração que parecem nunca ter saído dali. Uma escada um tanto sombria, levando-se em consideração o restante dos cômodos, conduz ao terceiro andar onde se tem uma reconstituição do quarto onde Getúlio Vargas suicidou-se e do gabinete do Presidente Prudente de Moraes, além da exposição “Cronologia da República”.

Na verdade a vontade que se tem, num primeiro momento, é deitar-se no chão e passear o olhar pelos tetos, todos eles retratando cenas como Baco e Ariadne e Deuses do Olimpo e exibindo enormes lustres e detalhes primorosos por toda sua volta. Como uma criança impaciente, várias vezes vi minha mão tencionando tocar alguma peça, acariciar algum detalhe, examinar a textura de uma pintura pequena, sutilmente adornando um espelho quase do tamanho da parede, tão delicados são os detalhes que aguçam a imaginação.


Quarto de Getúlio Vargas

Os jardins refrescam olhos e alma após a visita. Lagos, pontes, grutas, chafarizes e esculturas de ninfas fazem um conjunto digno de nota com os cisnes brancos e o sol da manhã. Por toda a extensão dos jardins pessoas se espalham em várias formas possíveis de lazer e cultura. Alguns jovens ensaiam numa orquestra perto do chafariz, um grupo da terceira idade se junta em uma roda e fazem uma seresta pontuada de saudosismo e emocionadas interpretações, acompanhados por violões e cavaquinhos. Grupos teatrais levam peças infantis ou contam histórias para pequenos espectadores ansiosos. Alguns lêem, outros se sentam à sombra das árvores apenas observando, muitos fotografam e todos, numa impressionante comunhão de cores, estilos, arte e formas de lazer parecem compor um quadro tão extraordinário quanto o que se descortina dentro do palácio.

Um comentário:

Cristiane Miranda disse...

Pedro, parabéns pela matéria sobre o Museu da República.