terça-feira, 1 de junho de 2010

ANTROPOLOGIA TUPINIQUIM III

Por Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS, 1° de junho de 2010.

Tenho mantido correspondência com o amigo Antropólogo, de verdade, Edward M. Luz e por total afinidade de propósitos e pensamento reproduzo um texto que me enviou recentemente.

Desmandos da Antropologia Brasileira

Edward M. Luz. Antropólogo Consultor. Sócio Efetivo da ABA. Doutorando do CEPPAC/UnB

É sempre perigoso e difícil falar qualquer coisa acerca da antropologia em poucas palavras. Mas aqui vai minha leitura antropológica, sem aspas de distanciamento, nem metáforas mirabolantes, acerca do que está acontecendo com a Antropologia brasileira.

Ao buscar e deter um conhecimento singular, único porque multi-cultural, acerca do Homem, a Antropologia na verdade, termo estranho à esta ciência, onde tudo é sempre relativizavel, vem ao longo de sua história colecionando momentos e méritos diversos, dos mais nobres aos mais espúrios. Um dos poucos fatos que os antropólogos conseguem concordar é que: nem este Homem com H maiúsculo, nem esta Antropologia existem concretamente. Ambos são personagens conceituais que prestam um enorme serviço à humanidade. Muito embora não detenham o monopólio, os antropólogos são os humanos que melhor manipulam os poderes simbólicos destes conceitos, utilizando-o como podem, ou como querem, ou como são obrigados a fazerem. Agem assim por conta de diversos fatores (ideológicos, sociais e econômicos) que condicionam a prática da antropológica enquanto seres humanos repletos de necessidades. Ao longo da história humana, antropólogos fizeram diferentes usos do poder simbólico da Antropologia para os mais diferentes fins. Alguns o utilizaram como instrumento de legitimação do colonialismo europeu, outros ainda, como ciência prática e multifuncional capaz de propor maneiras de melhor lidar com as dificuldades inerentes do manejo de um império global, etc.

Outros antropólogos A utilizaram para questionar ou validar as mais diferentes ideologias que a mente humana produziu, (mitológicas, religiosas e filosóficas). A evolução ideológica da antropologia é tema das disciplinas mais elementares na formação de um bacharel.

Com o ocaso da ideologia comunista/socialista, legitimada por muitos antropólogos que questionavam o modelo capitalista dominante, alguns antropólogos fazem agora uso do poder de seu discurso científico, para legitimar o discurso ambientalista global.

No Brasil, alguns antropólogos fazem uso do discurso científico para legitimar demandas ambientalistas. Muitos deles são subservientes aos movimentos sociais, o que compromete sua capacidade de emitir pareceres nas demarcações de terras indígenas e quilombolas. Sou testemunha disso. Atuei em oito demarcações de terras indígenas, e em cinco delas sofri pressões da Funai e de ONGs para legitimar demandas em que era flagrante o exagero das pretensões territoriais. Como fiz relatórios contrários, a Funai desconsiderou meu parecer e buscou outro antropólogo para fazer o serviço sujo que me recusei a fazer. E se ele também se recusar, a FUNAI o dispensará e conseguirá outro para fazê-lo e assim irá até conseguir implementar seu desejo já mancomunado com ONGs internacionais.

Por conta de um compromisso histórico da Antropologia brasileira com os povos indígenas do Brasil e de outro compromisso ideológico Ambientalista, os antropólogos tornaram-se reféns sempre subservientes aos mais diversos movimentos sociais em território nacional, o que compromete profundamente sua capacidade de emitir laudos, pareceres ou relatórios nas demarcações de terras indígenas e quilombolas. Não importa o que os indígenas façam ou deixem de fazer, porque como já disse Eduardo Viveiros de Castro, um dos maiores expoentes da Antropologia brasileira ‘pro antropólogo, o índio é que nem cliente: tem sempre razão’.

Esse é o principal motivo, porque tanto ele, como eu, como muitos indígenas do Nordeste, acreditamos que os antropólogos não podem, não devem e não precisam mais participar dos processos de identificação e delimitação de novas terras indígenas. Os novos indígenas já estão preparados para defender seus interesses sozinhos. O Executivo brasileiro é perfeitamente capaz, de promover os estudos necessários por meio de outros profissionais mais imparciais (sociólogos ou historiadores, por exemplo), e a sociedade brasileira plenamente capaz de avaliar suas demandas nos fóruns apropriados, ou seja: no Congresso Nacional e no Judiciário Federal.

Eis o meu breve parecer!!!”

Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva

Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA); Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS); Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB); Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS); Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional e do pedrodaveiga.blogspot.com/

Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br

E-mail: hiramrs@terra.com.br

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