Por Osvaldo Broza
“Eram dois amigos inseparáveis...”, assim começa a letra da música, Sonho de Um Caminhoneiro, composta e interpretada pela dupla sertaneja: José Rico e Milionário. Ela conta a história de dois amigos caminhoneiros, mas, sobretudo, conta a história de uma grande amizade, dessas que duram por toda uma vida, independentemente do tempo, da distância, da profissão e das circunstâncias.
Quantas são essas amizades que adquirimos no decorrer de nossa existência? Diz o jornalista e colunista Carlos Nasser que não passam de 15. Já falei sobre isso na crônica “Cadê os Amigos”, no livro Campo Mourão em Crônica. O cantor Roberto Carlos diz que gostaria de ter um milhão de amigos. Acho que 15 é pouco – embora não discorde - e um milhão é apenas uma bela utopia em uma bela música do nosso “Rei”. O mais real seria: um milhão de conhecidos.
Aliás, um conhecido meu diz que não empresta dinheiro pra amigo porque corre o risco de perder o dinheiro e o amigo. Um outro conhecido, dono de uma empresa de médio porte, diz que não emprega filho de amigo. A justificativa é quase a mesma, pode perder o amigo se tiver que demitir o filho.
Parentes também se encaixam nessas afirmativas, com uma vantagem (sic): eles continuam sendo parentes.
Mas, será tudo isso verdade? Acho questionável. Entendo que “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”, como diz a sabedoria popular. Que bela e sábia opinião! E elucidativa.
Só sei que já perdi amigos emprestando e perdi quando não me emprestaram. Mas não me endureceu o coração por causa disso. Entendo, agora falando sério, que eles não eram meus amigos.
Dizem os mais entendidos, porém que amizade não deve, mesmo, se misturar com negócio. “Amizade é amizade, negócio é negócio”, afirmam. Essa é um pouquinho mais inteligente! E se tiver dinheiro no meio, aí, então, a coisa se complica.
O difícil é distinguir e aceitar isso, dependendo da situação.
Quando eu fazia o curso de técnico em contabilidade, onde hoje é o Colégio Marechal Rondon – faz tempo isso – eu tinha um amigo inseparável. Certo dia, fui em sua loja comprar um par de sapatos. Fui prestigiar o amigo. Pedi se podia pagar depois - no dia que recebesse meu salário, não dava nem 10 dias de prazo - ele disse que não. Não vendia fiado, era uma norma da empresa, não podia fazer exceção, por mais que eu fosse seu amigo. Tentei ainda argumentar, meio que na base da brincadeira, pensando que ele também brincava, mas não teve jeito. Voltei pra casa sem os sapatos e com cara de ter recebido uma sapatada na cabeça. Fiquei traumatizado e com muito ódio por um bom tempo. Depois passou, mas nunca mais fui seu amigo. Aliás, essa é a única lembrança que eu tenho dele.
Será que normas, estatutos, regimentos, apego ao negócio ou ao dinheiro são tão importantes que vale até abrir mão de uma grande amizade? Será que uma amizade de 40 anos – como já vi acontecer – pode ser abruptamente interrompida porque o negócio fala mais alto? E por conta disso dois amigos inseparáveis, de repente, virarem inimigos?
“A amizade, depois da sabedoria, é a mais bela dádiva feita aos homens” (François La Rochefoucauld). O que não pode, ou não deve – ou precisa ser evitado - é, em nome da sabedoria, acabar com ela.
O cantor e compositor Oswaldo Montenegro sugere em sua música, A Lista, que:
“Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há 10 anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais”.
E ainda pergunta: “Quantos amigos você jogou fora?”
Na verdade, as amizades vêm e vão, algumas ficam e outras se perdem no esquecimento, tornam-se apenas em pequenas lembranças, algumas boas e outras nem tanto. E só o tempo dirá – talvez no fim da nossa vida - quantos amigos tivemos e quantos jogamos fora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário