De todas as frases feitas do mundo esportivo, talvez a mais famosa seja: “o futebol é uma caixinha de surpresas”. Desde que me entendo por gente, este comentário é um exemplo do “clichê”, da falta de originalidade – o chamado lugar-comum, banalizado pelo uso repetitivo – que deve ser evitado a todo custo.
Ao mesmo tempo, é uma frase que sempre me fascinou. Por que o futebol seria uma caixinha de surpresas? É uma imagem que remete ao universo infantil, mas que dá conta, realmente, de uma das principais características deste esporte – o inesperado. No futebol, o melhor nem sempre vence, o jogador ruim tem momentos de gênio, o craque perde gol embaixo da trave, um time pode ser derrotado nos últimos cinco minutos após estar vencendo por 2 a 0, e por aí vai.
Lendo a biografia do radialista Luiz Mendes, “Minha Gente”, descobri que o criador da expressão foi outro radialista, Benjamin Wright (1919-2000). Mendes menciona Wright ao falar do trabalho na Copa do Mundo de 1954, na Suíça, que ambos cobriram pela Rádio Globo.
Wright, descobri, teve uma longa trajetória no rádio. Atuou na Rádio Nacional em seus primórdios, onde tentou a carreira como cantor. Seu nome artístico era Ben Wright. Segundo um de seus filhos, o ex-árbitro José Roberto Wright, “ele tinha voz semelhante ao (cantor americano) Bing Crosby”.
A carreira como cantor foi deixada de lado na década de 50, quando Wright mergulhou no jornalismo esportivo. Trabalhou na Rádio Continental e depois na Globo. Segundo sua outra filha, Ana Maria, cobriu seis Copas, entre 1950 e 1970. Foi comentarista de futebol e de arbitragem.
Conversei com os dois filhos de Wright no esforço de descobrir mais sobre a frase “o futebol é uma caixinha de surpresas”. Ambos têm orgulho da criação do pai, mas desconhecem em que circunstâncias Benjamin a formulou. “Se não fosse uma frase tão boa, não seria tão repetida”, observa José Roberto.
Concordo com ele. “O futebol é uma caixinha de surpresas” é uma frase tão boa que passou a ser usada de forma indiscriminada na explicação de “fenômenos” ocorridos dentro e fora do campo. O uso excessivo “gastou” a expressão, banalizando-a, tornando-a sinônimo de falta de originalidade. Mas como definir melhor a derrota do Internacional para o Mazembe no final do ano passado? Ou, bate na madeira, o que dizer se o Tolima superar o Corinthians amanhã?
(*)-Mauricio Stycer é jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 23 anos. É repórter especial e crítico do UOL.
Fotos: Álbum de família (na segunda, com o então presidente Juscelino Kubitschek).
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