quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

DESAFIANDO O RIO-MAR - ÓBIDOS

Hiram Reis e Silva, Óbidos, PA

Óbidos, noutro tempo Pauxis, nome dos índios para cujo estabelecimento teve princípio, Vila considerável, situada numa colina com alguma regularidade, e uma grande Praça no centro, junto à embocadura Oriental do Rio das Trombetas, com espaçosa vista para o Amazonas, cujas águas nesta paragem correm todas por um canal de oitocentas e sessenta e nove braças de largura; mas de tal profundeza, que tendo sido várias vezes sondado, não se lhe achou fundo. Tem uma magnífica igreja paroquial dedicada a Sant’ana. Fica dezesseis léguas ao poente de Alenquer. Seus habitantes recolhem diversidade de víveres, algodão, e grande quantidade de cacau, que é um dos mais bem reputados da capital”. (Manuel Aires de Casal - 1817)

foto de Jairo Vieira
Óbidos, considerada uma cidade histórica pela sua participação em episódios da vida nacional, uma vez que a sua fundação data de 1697 (século XVII), foi determinada pôr sua posição privilegiada, considerada estratégica pelo maior sertanista do extremo norte, Capitão-mor Pedro Teixeira, que teve oportunidade de observar, que em certo trecho, o grande rio diminuía apertado entre duas porções de terra formando uma garganta. Acidente fisiográfico indicado para a construção de uma posição fortificada naquele sítio, de vez que vivia-se o tempo dessas observações e advertências. Era o ano de 1637. Este acidente já teria sido constatado pôr Orellana e seus companheiros de aventura; em sua passagem pela angustura do rio a quem coube chamá-lo Amazonas (José Wagner Vasconcelos)

Origem do nome

Ao contrário do que se possa pensar, o nome “Óbidos” não deriva, absolutamente, como afirmam alguns autores desavisados, da parônima “óbitos”, mas sim do termo latino “oppidum”, significando “cidadela”, “cidade fortificada”.

Parônimo: palavra que embora apresente forma semelhante na grafia e pronúncia possui significado diferente, provocando, por vezes, confusão.

Óbidos Lusitana

É cidade “irmã” da Óbidos homônima portuguesa situada no Centro-Oeste de Portugal, a 80 km ao Norte de Lisboa, e pertence ao Distrito de Leiria. Possui um notável conjunto arquitetônico que se aninha harmoniosamente entre as muralhas do seu castelo, que alguns julgam ser de origem romana. Seu Festival do Chocolate e belezas naturais alcançaram fama internacional atraindo milhares de turistas anualmente. Sua excelente localização junto ao mar e proximidade da Lagoa de Óbidos despertou interesse de diversos povos ao longo dos séculos entre eles, Romanos, Árabes e Visigodos. A criação da Vila que remonta ao século I, teve origem na cidade de “Eburobrittium” - metrópole romana, próxima a atual Vila de Óbidos e que escavações arqueológicas, ainda em andamento, deixaram parcialmente a descoberto.

Histórico

Óbidos é uma das cidades paraenses tidas como “irmã” de Portugal. No continente europeu existe, também, um lugar conhecido como Vila de Óbidos, a 95 km de Lisboa. Além da herança do nome, a Cidade de Óbidos do Pará herdou tradições dos colonizadores portugueses. As ruas estreitas e ladeiras acentuadas, as mercearias de esquina e os amplos sobrados e casarios que datam do século XVII, XVIII, XIX e XX são alguns dos retratos de Portugal em plena Amazônia. A Cidade está localizada na parte mais estreita e profunda do Rio Amazonas. As ruas de Óbidos são uma recordação do passado. Cada um de seus monumentos conta um pouco da história da Cidade, fundada por volta de 1697.

Marcos Históricos Obidenses

Forte de Santo Antônio dos Pauxis de Óbidos: símbolo da fundação do município foi edificado aonde existia uma tribo de índios Pauxis. Ocupando um ponto dominante à margem esquerda do Amazonas, próximo à foz do Trombetas, podia ser avistado à distância pelos navegantes subiam ou desciam o Rio-mar. A localização estratégica era mais um marco da consolidação do domínio português na Amazônia e a escolha do sítio levou em conta, fundamentalmente, o fato de ser ali a parte mais estreita do Rio Amazonas (1,8 km). O Forte garantia que as embarcações que cruzassem o Amazonas, à sua frente, fossem obrigadas a parar, e pagar o do dízimo à Coroa Portuguesa.

Fortaleza Gurjão: construída na Serra da Escama foi erguida no início do século passado, juntamente com o Quartel de Artilharia, para guarnecer e defender a região. Sua floresta totalmente preservada oferece uma boa alternativa de lazer aos amantes do ecoturismo.

Igreja de Nossa Senhora de Sant´Ana: os padres Capuchinhos da Piedade, vindos da Cidade do Porto com objetivo de catequizar os índios Pauxis ergueram a bela igreja em fevereiro de 1827. Anualmente, no segundo domingo do mês de julho, é realizado o Círio de Sant’Ana. Participam do evento fiéis Cidade e dos municípios vizinhos.

Capela do Bom Jesus: foi erguida na parte mais alta da Cidade, e é fruto de uma promessa dos obidenses para que a Cidade fosse poupada de novos ataques cabanos. A Cabanagem, movimento ocorrido entre 1831 e 1840, deixou milhares de mortos em todo o estado. Os revoltosos chegaram à Cidade depois de tomar as cidades vizinhas e foram autorizados a desembarcar depois de assegurar que suas intenções eram amistosas. Na calada da noite, porém, tomaram o Forte e se apossaram de armas, saquearam cometeram todo o tipo de atrocidades contra os indefesos obidenses. Sob o comando do Padre Raimundo Sanches de Brito e de seu irmão, também religioso, Antônio Manuel Sanches de Brito, os rebeldes foram dominados e expulsos.

Casarios no estilo português: em decorrência do grande número de edificações de origem lusitana a região é considerada a mais portuguesa das cidades ao longo da linha do Equador. A Secretaria Executiva de Cultura do Estado do Pará e a Universidade Federal do Pará procura manter viva a história de Óbidos retratando em painéis, colocados nas fachadas dos casarios antigos, prédios históricos e principais monumentos da Cidade, os dados mais importantes de cada um, é o chamado Museu Contextual.

Cronologia Histórica

A localização do Forte, portanto, levou em conta sua localização estratégica às margens do Rio Amazonas onde seu curso apresenta um estreitamento considerável sendo possível monitorar a passagens dos navios com facilidade.

1697 - ao subir o Rio Amazonas, com destino ao Rio Negro, o governador e Capitão-general Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho verificou ser a margem esquerda muito favorável para a construção de um forte, pois com ele seria mais fácil garantir a hegemonia portuguesa no Amazonas. E entregou a Manoel da Mota e Siqueira a construção do Forte. Em torno da obra, os capuchos da Piedade estabeleceram um aldeamento de índios no Rio Trombetas, chamado Pauxis, nome que foi dado também à Fortaleza.

1758 - a aldeia prosperou e o forte servia para registrar o movimento de embarcações que desciam e subiam o Rio, até que, em março deste ano, o Capitão-general Francisco Xavier de Mendonça Furtado, ao passar pela aldeia dos Pauxis, elevou-a a Vila, aumentando-a com mais duas aldeias próximas, com o nome de Óbidos, constituindo dessa forma, o Município, sob o orago de Senhora Santana.

1833 - foi mantida como Vila nas sessões do conselho da Província, de 10 a 17 de maio, porém seu nome foi alterado para Pauxis.

1854 - Resolução n° 25, de 2 de outubro, determinou que fosse chamada novamente Óbidos.

1868 - a Fortaleza por foi reconstruída pelo major de engenheiros Marcos Ferreira de Sales, que a fez semicircular com dez canhões. Fizeram-lhe algumas obras importantes, tais como a construção de plataformas corridas em cantarias de Lisboa, arrecadação de armamento e quartel, ficando fechada por duas cortinas a Leste e a Oeste.

1889 - adesão de Óbidos ao Regime Republicano ocorreu na sessão da Câmara Municipal, de 26 de novembro.

1890 - dentro da nova organização municipal, o Governo Provisório do Pará, pelo Decreto n° 44, de 19 de fevereiro, extinguiu a Câmara Municipal de Óbidos. No mesmo dia, e pelo Decreto n° 54, criou o Conselho de Intendência Municipal, nomeando para Presidente o tenente-coronel Joaquim José da Silva Meireles.

1900 - durante o governo do Dr. Paes de Carvalho, dissidências políticas concorreram para a extinção dos municípios de Juruti, Oriximiná e Quatipuru através da Lei n° 729 de 3 de abril. O território de Oriximiná deveria ser dividido entre os municípios de Faro e Óbidos, o que, na realidade, não aconteceu pelo fato de o Município ficar anexado somente ao segundo.

1924 - em 23 de julho eclodiu um movimento revolucionário em Manaus, com a determinação de depor o governador interino e acabar com a oligarquia reguista. Após a dominação de Manaus e o resto do Amazonas, os revolucionários decidiram, então, conquistar toda a Amazônia, sendo Óbidos o primeiro alvo: de lá, segundo os planos traçados, tomariam o resto do Baixo Amazonas e investiriam contra Belém. Não houve dificuldade na tomada de Óbidos: o capitão Dubois intimidou o Comandante da Artilharia, capitão Oscar Bastos Nunes, que entregou a Fortaleza, para evitar o bombardeamento da cidade e o afundamento de uma lancha que conduzia mulheres e crianças. Instalados os revolucionários, dias depois chegava à cidade o tenente Barata, para assumir o comando da Fortaleza e dali dar inicio ao ataque a Belém, via Santarém. No dia 11 de agosto aportou em Belém o paquete Paconé, conduzindo o Comandante em chefe da expedição legalista, o general João de Deus Menna Barreto, que assumiu o comando da 8ª Região Militar, instalando o Quartel-general a bordo de sua embarcação. Já em Belém estava sufocado o movimento liderado por Assis Vasconcelos e a cidade encontrava-se em perfeita ordem. Os legalistas temiam apenas que o navio revolucionário Ajuricaba, viesse atacar a cidade. No dia 16 a expedição saiu de Belém, rumo ao Amazonas. Dia 19 ocuparam Santarém, restabelecendo a legalidade. A 26, o general Menna Barreto comunicou a rendição da Fortaleza de Óbidos, quando foram presos os tenentes revolucionários, entre eles, Manoel Barata. No dia 30 de agosto, Manaus era ocupada pelas forças legais e o coronel Raimundo Barbosa comissionado no cargo de governador.

1932 - o General Bertoldo Klinger levantou as tropas de São Paulo, visando a reconstitucionalização do país. No Pará houve reflexos em duas cidades: Óbidos e Belém. Em Óbidos o ex-Promotor Demócrito Noronha foi designado pelo Coronel Pompa, enviado pelo General Klinger, para ser o chefe civil da revolução. Demócrito tomou as primeiras providências: mandou prender o Prefeito da cidade, Coronel Freire, afastou o Juiz de Direito, Abdias de Arruda, e suspendeu todos os serviços judiciários. Isso tudo a 17 de agosto. Dois dias depois, seguiu para Manaus a bordo dos navios “Jaguaribe” e “Andirá”, que foram apreendidos no porto pelos revolucionários. O plano era tomar o governo do Amazonas e depois descer o Rio Amazonas em direção a Belém. Passando por Parintins já encontrou a cidade dominada, tomou algumas medidas administrativas e rumou para Itacoatiara. A aventura revolucionária terminou defronte daquela cidade amazonense. Um fim trágico, pois ali os navios revolucionários foram atacados por possantes navios de guerra. Esse fato é chamado de “Batalha Naval de Itacoatiara”. Alguns revolucionários foram capturados e enviados para Manaus, de lá, despachados para Belém à chegada dos quais rebentou uma revolta, sufocada por Magalhães Barata. O Coronel Pompa fugiu de Óbidos logo que soube da rendição dos paulistas.

1943 - estabelecida à divisão judiciária-administrativa, para o período 1944-48, apresentada pelo decreto-lei n°. 4.505, de 30 de dezembro de 1943, em que o município de Óbidos ficava constituído somente pelo distrito sede, situação que se encontra até hoje.

Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva

Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA); Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS); Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB); Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS); Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional.

Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br

E–mail: hiramrs@terra.com.br

Imagem da Internet (Google)-fotomontagem (PVeiga).

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