segunda-feira, 18 de outubro de 2010

UM PEQUENO EXERCÍCIO DE IMAGINAÇÃO

E se os mineiros ficassem soterrados no Brasil, como seria?

Se o episódio dos mineiros soterrados no Chile tivesse acontecido no Brasil, como será que teria se desenrolado? Posso imaginar algumas das passagens...

Para começar, o Presidente não iria chegar nem perto do local. Mas no programa de rádio "Café com o Presidente", ele iria declarar que "um país que acha petróleo no pre-sal vai tirar os mineiros de lá em poucos dias". E iria aproveitar para colocar culpa do soterramento na imprensa, nos "demos" e no FHC.

Uma senadora da base aliada iria sobrevoar a mina de helicóptero, declarar a solidariedade do governo social e mostrar generosidade, liberando o Fundo de Garantia para os mineiros (desde que eles se apresentassem pessoalmente na Caixa Econômica com os documentos todos) e garantindo que as famílias seria colocadas no cadastro do programa Minha Casa, Minha Vida.

Para o governador do estado em que ocorresse a tragédia, o presidente iria prometer a liberação de milhões de reais em ajuda. Seis meses depois, a Presidência iria mandar um projeto de lei para o Congresso, propondo um financiamento de algumas centenas de milhares de reais para o governo estadual, desde que o governador "apresente projeto". E iria ficar tudo por isto mesmo.

Mediante a denúncia, na imprensa, de que o Ministério das Minas e Energia já sabia há muito tempo das condições de segurança da mina que desabou, o governo iria publicar um documento, cheio de planilhas e gráficos, mostrando que seria responsável por uma intensa melhoria nas condições de trabalho e demonstrando o crescimento vertiginoso da qualidade de vida dos mineiros desde o governo dos tucanos. No dia seguinte, o Estadão iria provar que os gráficos estariam errados, que os dados estariam misturando anos diferentes e que os números se refeririam a outras regiões e outros segmentos. Alguns dias depois, Guido Mantega iria à TV e, irônico, iria reconhecer que os números estavam totalmente errados e que nada daquilo servia para nada, mas colocaria a culpa num estagiário e no sistema de informática, e iria ficar tudo por isto mesmo.

Uma companhia americana enviaria voluntários experientes, que conseguiriam abrir um tubo de comunicação até os mineiros. Só aí é que se saberia que eles ainda estavam vivos. A assessoria internacional da candidata ao governo pelo PT iria declarar à imprensa que "os imperialistas americanos estavam voltado à época do colonialismo e que os ianques deveriam "go home"". Os técnicos venezuelanos seriam enviados por Hugo Chávez. Ficariam alguns meses fazendo confusão na região, e finalmente iriam embora sem grandes resultados práticos.

Mulheres de deputados e senadores do PT organizariam diversas ONGs, que receberiam milhões de reais em ajuda, para recuperação da região, para ajuda humanitária, para educação especial e para pesquisa de hábitos socioeconomicos de famílias de mineiros. Nenhuma das ONGs prestaria contas, uma delas faria uma lista de nomes de pessoas que supostamente teriam feito cursos, omitindo CPFs e incluindo nomes de familiares dos organizadores da ONG. Mesmo com denúncias na imprensa, nada iria acontecer. Ajuda direta às famílias seria insignificante. Nenhuma melhoria seria construída na região e a maioria absoluta dos recursos alocados às ONGs iria desaparecer. E iria ficar tudo por isto mesmo.

A Folha de São Paulo publicaria uma matéria denunciando que o BNDES teria financiado a mineradora, cujos donos seriam amigos de um deputado da base aliada, e que a mineradora não tinha cumprido nenhuma das exigências de segurança, mas que o banco ignorara isto na hora de conceder o empréstimo. Uma denúncia de favorecimento seria prontamente rejeitada pelo banco. O blogueiro financiado pelo governo Luiz Nassif iria publicar uma série de matérias indignadíssimas, gritando contra o "partido da imprensa golpista", dizendo que a denúncia da Folha era completamente falsa, que o banco não tinha emprestado nenhum tostão para aquela mineradora e que a negligência de fiscalização teria sido no governo FHC. Confrontado com a verdade, Nassif iria ignorar as evidências, ficar quieto e iria ficar tudo por isto mesmo.

Paulo Henrique Amorim iria fazer uma bombástica matéria na Record, mostrando a vida dos mineiros da região, denunciando que há alcoolismo, pedofilia e prostituição na cidadezinha.

Dona Marisa, saindo do jatinho da FAB que a levou para o cabeleireiro e a aplicação de botox em São Paulo, seria ouvida reclamando que "deviam deixar estes mineiros ingratos lá mesmo, pois votaram no tal do Anastácia e não no Hélio Costa"...

O programa da Luciana Gimenez iria promover um bate-boca entre mulheres e amantes dos mineiros soterrados, entre um desfile de lingerie e outro, com intensa troca de insultos.

O governo federal iria abrir uma licitação internacional para escavar o buraco para chegar aos mineiros soterrados. Uma empreiteira brasileira iria entrar na justiça e emperrar o processo todo por vários meses. Um filho da Erenice Guerra iria vender consultoria especializada na construção de cápsulas de salvamento de mineiros soterrados, por vários milhões de reais.

Oscar Niemeyer seria contratado, por 25 milhões de reais, para desenhar um Memorial ao Mineiro, feito em marmore branco, concreto e vidro. O memorial não chegaria a ser construído, mas receberia o nome da mãe do Presidente; a licitação para sua construção seria lançada, uma das seis grandes empreiteiras ganharia o contrato e receberia parte do dinheiro. Outras construtoras entrariam na justiça, o processo todo pararia e iria ficar tudo por isto mesmo.

O governo federal iria esquecer o assunto todo. A imprensa, tendo esgotado o tema por exaustão, iria abandonar o assunto. Algumas matérias seriam feitas sobre algumas das famílias. Uma filha de um mineiro iria acabar no BBB e viraria celebridade instantânea.

O governo Lula diria que a culpa pelo fracasso do resgate dos mineiros seria, alternadamente, dos tucanos, da oposição, da imprensa e do neoliberalismo.

E iria ficar tudo exatamente do mesmo jeito...

De e-mail recebido de Germano Quandt.

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