Muito dificilmente você se lembrará - ou mesmo terá conhecimento - deste nome. Não só pela difícil pronúncia, como pelo fato dele ter nascido nos cafundós do Judas lá no meio da África, num lugar desolado, pobre e abandonado chamado Malawi.
William Kamkwamba nasceu em 5 de agosto de 1987. Era um garoto que, como eu, não sofria do mal do conformismo. Ele não aceitava que as coisas - mesmo sendo muito ruins - são imutáveis, tendo que aceitá-las simplesmente e pronto. Cientistas não se curvam perante o infortúnio e ficam se lamentando da vida; eles vêem esses infortúnios como uma oportunidade, um estímulo, um desafio. E desafios existem para serem vencidos! Esta é a história do garoto que domou o vento.
O meio do nada! É isso que se pode resumir do ridículo país de Malawi, bem na África Oriental, limitado ao norte e ao leste pela Tanzânia e ao oeste pela Zâmbia (dois outros buracos onde o Judas não perdeu as botas, pois ele já as tinha perdido pra assaltantes lá pelas bandas de Moçambique). Malawi é o entroncamento do nada com coisa alguma, uma terra que qualquer deus pagaria pra esquecer, só para não ter que aceitar que fez merda.
Naquela pocilga de lugar não dava nem pra ligar um rádio, pois não tinha eletricidade. Água? Só se fosse através de bombas manuais já que, sem eletricidade, não havia como ligar bombas elétricas. Esgoto? Você deve estar de brincadeira! Nem mesmo um celular podia-se usar direito, pois não havia como recarregar as baterias, só andando muitos quilômetros até se encontrar algo parecido com um vilarejo com eletricidade (chamar isso de “civilização” não é ser otimista, é ser idiota).
Durante a época da seca, o país (que depende da agricultura) enfrentou sua pior crise, com muitas pessoas morrendo, a fome era companheira constante e o desânimo esta se enraizando fundo nas pessoas. Pessoas comuns dariam de ombros e ficariam na base do “Se Deus quiser, um dia teremos o que comer” ou “Deus sabe o que faz, é uma provação”. Mas Kamkwamba não era um garoto comum. Seus pais tiveram que tirá-lo do colégio aos 12 anos, pois não tinham como pagar seus livros ou mesmo pelos cadernos. O destino estava sendo cruel com ele e todos os habitantes dali. O melhor era desistir e enfrentar o amargo sabor da derrota, mas quando se tem uma brasa ainda acesa no fundo da alma, nada poderá apagá-la; você só pode perder para si mesmo; e Kamkwamba não era um perdedor.
O valente William sabia que as Nações Unidas mantinham uma pequena biblioteca. Com seu péssimo inglês, o Grande William selou seu destino nas letras escritas há muito tempo. Vozes do passado sussurraram no seu ouvido. Não através de médiuns, mas através de livros e revistas. Ele resolveu que ali ele iria achar uma saída, pois ele TINHA que achar uma saída.
Pasteur disse uma vez: “O acaso favorece a mente preparada”. E foi por acaso que ao ler sobre eletromagnetismo, William teve um estalo que só acontece a poucas pessoas, e isso mudou a sua vida radicalmente: ele viu um receituário básico, ainda que de certa forma hermético, sobre como melhorar a vida em sua região. Dessa forma, o Grande William resolveu que faria o impossível: construir um sistema de geração de energia elétrica. Só tinha um pequeno probleminha: ninguém avisou a Kamkwamba que isso era impossível. Ou, se avisaram, ele não prestou atenção. Em algumas histórias uma motoneta ficaria berrando no final “Eu te disse! Eu te disse!”, mas foi um outro berro que soou mais forte. O berro da Força de Vontade!
Contra todas as opiniões que ele estava maluco, que o que ele queria fazer não era possível, que tudo resultaria em fracasso, William Kamkwamba não só QUIS fazer o tal sistema de geração de energia, ELE FEZ!
Com peças de sucata, Young Master William Kamkwamba construiu um gerador eólico de energia elétrica. Tosco, mas plenamente funcional. Sua paz e tranquilidade como anônimo chegou ao fim, pois várias pessoas começaram a ir na casa dele para buscar água (com bombas elétricas fica mais fácil ter irrigação), ver eletricidade e até uma lâmpada elétrica!
O Menino que Domou o Vento virou celebridade. Jornalistas sabendo do que ele fez foram correndo atrás de uma história simples, mas encontraram algo muito maior. William foi até mesmo convidado para palestrar no TED e, acreditem, isso não é pra qualquer um. Abaixo vemos a segunda vez que Kamkwamba participou do TED.
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Verdadeiros mestres não guardam seu conhecimento só pra si. Da mesma forma, o Grande Mestre Kamkwamba, Senhor dos Ventos, palestra no mundo inteiro sobre suas experiências, ajudando países toscos, que ironicamente chamam de “em desenvolvimento”, a terem seus sistemas de geração de energia, nem que seja para iluminar as casas, fazer bombas d’água funcionarem e até recarregar algum celular pai-de-santo. Ele até mesmo escreveu um livro a respeito e mantém um blog.
Frente a muitas adversidades, qualquer pessoa sentaria no chão e choraria desoladamente por ter nascido naquela tristeza de lugar, entregando-se ao desespero, sem tentar produzir nada de útil, nem tentar mudar o seu destino e o das outras pessoas. Entretanto, William Kamkwamba não é uma pessoa qualquer, é alguém que merece nosso respeito, mas ele não exige isso. Grandes homens não exigem nada. Homens de grande porte não conquistam civilizações pelo aço, pois a Força é a lâmina do coração. William Kamkwamba, o garoto que domou o vento, é um dos Grandes Nomes da Ciência.
Fonte: Ceticismo - Imagens Internet - fotoformatação (PVeiga).
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