quinta-feira, 5 de agosto de 2010

SAKINEH ESTÁ CAUSANDO IINCÔMODO?

Por Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS

“Lula, visto inicialmente como o príncipe augural, recebeu o beijo da prepotência e voltou a ser o sapo retrô, que vai deixando, mundo afora, um rastro asqueroso de justificação do mal”. (Reinaldo Azevedo)

Sakineh Mohammadi Ashtiani

Em 2006, Sakineh foi condenada a receber 99 chibatadas por ter um “relacionamento ilícito” com um homem acusado de assassinar seu marido. Mohammad Mostafaei, seu advogado de defesa, alegou que, na época do homicídio, Sakineh era agredida pelo marido e que há dois anos não tinham qualquer tipo de relacionamento conjugal. Sakineh foi julgada e condenada por adultério e à morte por apedrejamento segundo o polêmico direito iraniano que prevê que o “conhecimento do juiz”, dispensa a apresentação de provas e testemunhas.

Mohammad Mostafaei

Depois de ter a mulher e o cunhado presos, o advogado de Sakineh fugiu pela fronteira do país com a Turquia onde permanece sob a custódia das autoridades locais. Diplomatas europeus tentam, de todas as maneiras, conseguir a deportação do advogado. Nos últimos dias, as autoridades iranianas libertaram o cunhado de Mostafaei, mas a mulher do advogado permanece presa.

Capacho

Por Reinaldo Azevedo

Mais uma vez Reinaldo Azevedo faz uma crítica oportuna e contundente ao posicionamento obsceno e alienado daquele que se auto-intitula porta voz dos latino-americanos. A postura caótica de nossos diplomatas é apenas um reflexo de demência de seu comandante-em-chefe.

“O título parece nome de filme iraniano? Não deixa de ser. No caso, um filme de terror que se realiza lá e uma tragicomédia que se vive aqui. No Irã, a protagonista é Sakineh Mohammadi Ashtiani, acusada de adultério e condenada a morte por apedrejamento - já recebeu 99 chibatadas. No Brasil, o ator principal é Luiz Inácio Lula da Silva, capacho de ditaduras em que trogloditas de todo o mundo tentam limpar suas patas sujas de sangue em nome da autodeterminação dos povos. Há um movimento mundial em favor da libertação de Sakineh. Ao clamor mundial, Lula responde ora com estupidez, ora com chacota falsamente caridosa, que mal disfarça o endosso à tirania iraniana e, acreditem! O apedrejamento simbólico da vítima. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é aprovado por quase 80% dos brasileiros? Estou me lixando pra isso. Revela-se, a cada dia, um monstro moral. Quando e se ele bater nos 100%, vocês me avisem: pretendo ser o traço estatístico a lhe dizer: ‘NÃO!!!’

Mesmo quando parece aquiescer com as noções básicas de justiça, Lula chafurda no pântano da justificação do mal, da impostura, da vilania ética e da ilegalidade. Este senhor, com efeito, é uma personagem inaugural: nunca antes na história deste país a estupidez foi tão bonachona, a burrice tão aclamada, a prepotência tão ‘autêntica’. Lula é a expressão do bom selvagem de Rousseau - uma formulação já originalmente cretina de um cretino ‘castelão e vagabundo’ (by Fernando Pessoa) - filtrado pelo sindicalismo oportunista e pelo stalinismo do petismo casca-grossa.

No sábado, durante um comício em favor da candidatura de Dilma Rousseff à Presidência, o Babalorixá de Banânia resolveu oferecer a sua ajuda a Sakineh nestes termos:- ‘Se vale a minha amizade e o carinho que eu tenho pelo presidente do Irã e o povo iraniano, se essa mulher está causando incômodo, a receberíamos no Brasil de bom grado’.

Notem que a vítima aparece como aquela que ‘está causando incômodo’. Mahmoud Ahmadinejad, que manda enforcar opositores em praça pública, pendurados em guindastes, merece a ‘amizade’ e o ‘carinho’ de Lula. Mas, isso ainda é pouco.

O presidente brasileiro não está se oferecendo para receber a iraniana condenada ao apedrejamento em nome da civilidade, dos direitos humanos ou mesmo da caridade. Ele se propõe a resolver um ‘incômodo’ de seu amigo Ahmadinejad. Entende-se que a oferta busca honrar aquela ‘amizade’ e aquele ‘carinho’. Não é que ele ache a pena, em si mesma, brutal ou injusta. Lula, em suma, justifica o mal.

A impiedade de sua oferta - e nisso está sua impostura - se revela na sequência de sua fala, quando confessa, em seu português exótico, cujo sentido se presume, ter traído Marisa Letícia:- ‘Fico imaginando se um dia tivesse um país do mundo que se o homem trair fosse apedrejado. Eu queria saber quem é que ia gritar: ‘Atire a primeira pedra iá iá aquele que não traiu’’.

Ele cantarolou. Os presentes riram. Lula é a face risonha da morte. Lula é a versão galhofeira das tiranias. Lula é o ‘clown’ da violência institucional. No fim das contas, oferece o Brasil como abrigo, inferindo que esta é uma boa terra para adúlteros, não para vítimas de ditaduras. Bem, os boxeadores cubanos que o digam. Lula os jogou no colo de Fidel Castro. Tudo compatível com o pensador que comparou os protestos contra a fraude eleitoral no Irã a torcedores descontentes porque seu time perdeu o jogo. Lula atinge o grotesco quando cantarola ‘atire a primeira pedra’ referindo-se justamente a uma mulher condenada ao apedrejamento. Eis o vilão ético.

E, por espantoso que pareça, Lula também transgrediu abertamente a lei ao fazer, num palanque eleitoral, uma oferta que diz respeito ao que seria um ato de governo. Sua propensão à ilegalidade é incurável.

Mãos sujas

O Babalorixá já havia lavado as mãos nesse caso - sujando-as, como de hábito, no sangue de todas as ditaduras do planeta. Na quarta-feira, em solenidade no Itamaraty, explicou por que preferia não se envolver: - ‘Um presidente da República não pode ficar na internet atendendo todo o pedido que alguém pede de outro país. É preciso tomar muito cuidado porque as pessoas têm leis, as pessoas têm regras. Se começarem a desobedecer as leis deles para atender o pedido de presidentes, daqui a pouco vira uma avacalhação’. (...)

Lula visto inicialmente como o príncipe augural, recebeu o beijo da prepotência e voltou a ser o sapo retrô, que vai deixando, mundo afora, um rastro asqueroso de justificação do mal. Ao contrário do que reza a propaganda oficial e até de certo senso comum, Lula manchou a reputação do Brasil num valor cada vez mais caro na relação entre os países: os direitos humanos. Confessando-se um adúltero - e supondo que todos o são -, este senhor ofereceu-se para receber uma ‘adúltera’, não uma vítima de um regime asqueroso. E assim procede porque, afinal de contas, suas relações com o tirano são de ‘amizade’ e ‘carinho’.

É o mais baixo a que ele chegou até agora. Mas, eu jamais corro o risco de subestimá-lo. Seu mandato não acabou. E, nesse particular, Lula pode mais”.

Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva

Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA); Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB); Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS); Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional.

Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br

E-mail: hiramrs@terra.com.br

Imagens da Internet (PVeiga).

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